TORÇÃO DO TORNOZELO
Estima-se que ocorra uma entorse, ou torção do tornozelo, por dia para cada 10.000 habitantes, ou seja, somente em Porto Alegre ocorre em torno de 1050 entorses por semana. A lesão representa o motivo mais frequente para atendimento na emergência. Ocorre que a articulação do tornozelo sustenta todo o peso do corpo, faz a interface entre a perna e o solo e, por esta função nobre na prática de esportes, frequentemente é acomentida por torções, fazendo com que os ligamentos do tornozelo sejam as estruturas mais lesadas no corpo de um atleta. Um sexto dos motivos de afastamento do esporte é por entorse do tornozelo e a causa mais comum desta lesão em uma dada região, varia com o esporte prevalente naquele local. Desta forma, nos EUA quase 50 % das torções de tornozelo ocorrem durante a prática de basquetebol. No nosso meio, certamente a lesão do tornozelo está muito mais relacionada com o futebol do que ao basquetebol. Uma vez sofrido a entorse do tornozelo, a chance de um segundo episódio pode tornar-se bastante aumentada, principalmente se o tratamento não é adequadamente instituído. É estimado que 20 a 40 % dos pacientes que sofrem uma torção do tornozelo persistam com algum sintoma residual após a fase aguda do traumatismo e estas sequelas dependem muito da adesão do paciente ao tratamento recomendado. O problema, por ser comum e muitas vezes negligenciado, evolui com sequelas frequentemente.
O RX pode mostrar a lesão somente nos casos em que o ligamento é rompido junto ao osso e carrega consigo um fragmento deste, de outra maneira esta lesão passa despercebida ao exame radiográfico. Como a enorme maioria das lesões do tornozelo ocorrem no ligamento propriamente dito, e não na sua inserção óssea, as radiografias habitualmente realizadas não permitem quantificar a gravidade da lesão e um adequado exame clínico é o melhor meio para esta avaliação. Em pacientes com história de entorses de repetição, um meio eficaz de avaliar a competência dos ligamentos do tornozelo é o “ rx com stress” da articulação. Neste caso, a radiografia é realizada com a articulação em posição de extrema inversão (o mesmo movimento sofrido pelo tornozelo no momento da torção), para avaliar a abertura ou subluxação na articulação. Este exame é muito útil para pacientes que apresentam entorses de repetição no tornozelo e/ou que apresentem sensação de insegurança (medo de torcer) após um ou mais episódios de torção articular. Em casos agudos, ou seja, logo após uma torção do tornozelo, este exame é desnecessário porque, além de ser extremamente doloroso nesta fase, o seu resultado não irá dirigir o tratamento a ser instituído naquele momento.
A gravidade da lesão é variavel, desde uma lesão leve dos ligamentos até uma lesão grave, com risco de deixar sintomas para o resto da vida, se não tratada adequadamente. Quando uma entorse de tornozelo acontece, um ou mais ligamentos no lado interno ou externo (mais comumente) sofreram estiramento, ruptura parcial ou ruptura total. Estima-se que pelo menos 10% dessas lesões evoluam com sequelas, especialmente quando o tratamento é negligenciado.
A gravidade da lesão varia de acordo com o grau de ruptura das estruturas ligamentares e é classificado de I a III.
Grau I – leve: estiramento de algumas fibras de um ou mais ligamentos, associado a inchaço e dor leves.
Grau II – moderado: ruptura parcial dos ligamentos associada a alguma instabilidade da articulação. Habitualmente o inchaço é maior e há dificuldade e rigidez por defesa na movimentação articular. A dor de intensidade moderada.
Grau III – grave: ruptura total de um ou mais ligamentos com maior instabilidade no tornozelo. Ha dificuldade para manter-se em pé e a dor é mais intensa.
Ao sofrer uma entorse no tornozelo, o ideal é passar por consulta com um especialista para uma avaliação correta da gravidade da lesão. Muitas entorses são tratadas sem orientação médica adequada e o indivíduo acha que ficou curado até notar que o seu tornozelo não é mais o mesmo. As lesões ligamentares, via de regra, cicatrizam bem, mas precisam ser imobilizadas e supervisionada por um especialista, para que não cicatrize alongada, sem a tensão adequada e com isso leve ao desenvolvimento de instabilidade articular, com perda da segurança, falseios e entorses de repetição. O tratamento da lesão, que antes envolvia longos períodos com gesso, hoje é, na maioria das vezes, realizado de forma funcional com imobilizações elásticas que bloqueiam alguns movimentos, mas permitem caminhar com uso de calçados regulares. Cada caso deve ser avaliado minunciosamente, mas a duração do tratamento é, habitualmente, de 6 a 8 semanas e, quase sempre, envolve uma fase inicial de imobilização funcional, seguida de reabilitação. As torções do tornozelo podem ainda machucar a cartilagem, acelerar o desgaste da articulação e levar ao desenvolvimento de artrose nestes pacientes.
Todo episódio de entorse do tornozelo deve ser tratado por um ortopedista, seguido de um adequado programa de reabilitação antes que o paciente retome suas atividades esportivas. Casos muito graves de instabilidade articular, que não melhoram após um longo período de reabilitação podem beneficiar-se do tratamento cirúrgico, com sutura e reforço dos ligamentos rompidos.